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Contos de Fada: lições da fantasia para o mundo real
Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra: http://vilamulher.terra.com.br/meninos-com-bonecas-meninas-com-bolas-8-1-55-211.html


          Branca de Neve, Rapunzel ou Cinderela, antes os contos de fada eram transmitidos oralmente ou por meio das séries de TV, hoje eles ganham outras interpretações e são veiculados também na internet. Não importa a forma de comunicação, as pequenas narrativas ainda são muito usadas por pais e educadores.
          Representam um meio de a criança compreender a si própria, além de auxiliá-la na busca dos significados da vida.
          “O mundo da magia prende a atenção da criança porque para elas não existe uma linha que separa seres ou objetos inanimados de seres com vida. A fantasia é a realidade da criança e isso as diverte, enquanto trabalha psicologicamente seus conflitos internos”, explica a consultora psicológica da Escola Infantil Regina Elia.
           Na opinião da psicóloga, ouviu ou assistir aos contos de fada ajuda no desenvolvimento da personalidade da criança e faz com que elas possam extrair diferentes significados de acordo com as suas idades e conflitos. “Eles atuam de forma terapêutica, porque é nos contos de fadas que as crianças podem revivenciar seus sentimentos”, entre eles, o medo de ficar grande, medo de ser rejeitado, ciúmes ou problemas orais. 
           Na prática, o conto de fadas da Cinderela, por exemplo, trata do abandono paterno e materno - quando o pai casa e deixa a filha com a madrasta. A mãe mal é citada. “Uma menina por volta dos seus cinco anos, que tem uma família em conflitos e que gosta de ouvi-lo, pode pedir a repetição de um determinado trecho. Sabemos que ali existe um conflito maior. Após ouvir tantas vezes quanto sua necessidade emocional precisa, ela começa a encontrar soluções e assim modifica seu modo de pensar, agir e se comportar, pois acredita que se enfrentar os obstáculos tais como a heroína conseguirá ser feliz para sempre”, esclarece a psicóloga.
          As historinhas trabalham muito a luta entre o bem e o mal, a vida e a morte. Regina explica que a criança ainda percebe que uma pessoa tem aspectos bons e ruins. A falta de maturidade faz com que elas acreditem que o herói e somente bom e o vilão o contrário.
          “Essa divisão entre o bem e o mal, que na verdade é o modo como a criança interpreta as pessoas e a si mesmo, ajuda a criança a depositar todas as suas “emoções boas” no herói e agressivas em cima do vilão. Isso é uma forma de deixá-los aliviados nas suas ansiedades primárias, além de deixá-las livres para encontrar soluções para seus conflitos internos”, diz.
          Para os pais ou contadores de história, a psicóloga aconselha nunca julgar o vilão, pois muitas crianças se projetam neles para seus sentimentos agressivos, achando que se o vilão for condenado, só ela e o vilão são maus. Também não se deve usar exemplos dos heróis através de “sermões” morais. A psicóloga afirma que as próprias crianças devem admirar as virtudes dos heróis e como ele conseguiu superar os obstáculos para conseguir a sua meta.
Por Juliana Lopes






Crianças na TV - o que aprender com suas atitudes
Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra: http://vilamulher.terra.com.br/criancas-na-tv-o-que-aprender-com-suas-atitudes-8-1-55-382.html
          Os pequenos estão cada vez mais na telinha. Talvez o maior exemplo disso seja a apresentadora mirim Maísa, que, aos quatro anos, já estava no Programa Raul Gil.
          Depois de chorar em pleno programa ao vivo - na época, ela tinha sete anos - órgãos públicos bateram de frente com o SBT para tirá-la do ar. Hoje, próxima dos nove anos, ela permanece no programa Sábado Animado mostrando a mesma desenvoltura.
          Fora do Brasil, uma espécie de reality show infantil vem causando polêmica. O canal GNT transmitiu recentemente o programa americano "Meu Filho é uma Estrela", em que dez crianças e seus responsáveis - mães, na maioria - passam oito semanas em uma casa fazendo testes. Assim como no Big Brother, elas também são eliminados por conta das suas atitudes. Além de ganhar o prêmio em dinheiro, a criança vencedora recebe um contrato de um ano com um agente de Hollywood. A questão não é só em torno da exposição dos pequenos até pelo menos 11 anos. Em alguns episódios, há o excesso de cobrança dos pais e a atitude de mostrar muito cedo o lado cruel das competições e disputas, tudo pelo dinheiro e pela fama.
          Programas como esse também levantam a discussão das crianças se tornarem adultos muito antes do que elas deveriam. Para a psicóloga Regina Elia, os pais participantes deste reality educam seus filhos para que eles sejam o que não conseguiram ser, e, na maioria das vezes, isso vai contra a própria personalidade da criança.
          E na intenção de agradar aos pais, muitas delas aceitam isso sem relutar. "Elas acabam fazendo de tudo para agradá-los, ainda mais quando se trata de uma competição de quem é a "mais bela" ou a "melhor", e correm o risco de passar por uma pressão emocional e estresse violento". Segundo a psicóloga, no futuro essa pode ser a causa para algumas doenças físicas e emocionais. "A mente de uma criança não está pronta para isso. Temos que pensar também como ela pode lidar com as frustrações. Se não as elaborar bem, temos ali na frente e na "esquina de casa" drogas, álcool, suicídio", alerta.
          O mau exemplo não está apenas em programas como esse, aqui no Brasil é bastante discutida a atuação da personagem de Klara Castanho, na novela Viver a Vida. Na ficção - vale lembrar que muitas crianças não conseguem discernir o que é realidade e novela -, Rafaela é uma menina sem limites, que fala o que quer. "A personagem Rafaela está ensinando às outras crianças que quem "manda" na casa é ela! Na minha opinião, esta personagem não acrescenta nada de bom, pois ela se revela uma menina desestruturada", aponta a psicóloga.
          Regina também questiona como a personagem está inserida no enredo da novela. "Alguns adultos que trabalham na novela a tratam como se ela fosse uma menina prodígio (maravilhosa, admirável ou extraordinária). Ela não tem nada de maravilhoso, e sim de mal educada, o que a torna uma criança atrevida e inconveniente", aponta. Para Regina, a personagem também parece não ter uma vida infantil "brinca pouco e só vive no mundo dos adultos". E para as crianças que assistem às cenas, a tendência é que elas repitam o mesmo comportamento, pois como se sabe, quando pequenos nós aprendemos muito por imitação.
          Sobre impor limites nas crianças, assunto bastante difícil para muitos pais, a psicóloga esclarece que tem a função de educar os filhos mediante aos valores da sociedade em que estão inseridos, sendo valores morais são aqueles que selecionamos para nós como verdadeiros. "Ensino uma criança a não roubar, porque ela pode ir presa", exemplifica. Na mesma situação, quando se trata de valores éticos, os pais devem mostrar que o objeto não deve ser roubado do colega porque não lhe pertence.
          Conforme a psicóloga, uma ótima forma de ensinar isso aos filhos é aproveitar situações vividas por Rafaela e outros personagens para mostrar, por exemplo, que o comportamento da personagem de desrespeitar a mãe não é algo certo. "É preciso que os pais entendam que devem sempre proteger seus filhos daquilo que lhes possa fazer mal. Se a criança comer chocolate antes de dormir e não quer escovar os dentes, devo forçá-la com delicadeza, porque esses dentes ela os manterá para o resto da vida. Não só os pais, como também os educadores, conseguem olhar para o futuro de seus filhos, seja na saúde física ou emocional, prevenindo problemas, e trabalhando no presente com muita paciência e delicadeza, porém com muita firmeza", finaliza.

Por Juliana Lopes


Meninos com bonecas, meninas com bolas
Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra: http://vilamulher.terra.com.br/meninos-com-bonecas-meninas-com-bolas-8-1-55-211.html


           A mãe Carolina* cuida sozinha do pequeno Carlos*, de quatro anos. O ex-namorado Pedro é um pai muito ausente e apenas dá atenção para suas duas filhas, do seu primeiro casamento.
          Em meio a essa confusão, Carlos busca carinho do pai e, com ciúmes das suas irmãs, chega a provocar a mãe de várias formas.
          Certa vez, o menino chegou a se vestir de mulher. Foi até o guarda-roupa, colocou um vestido rosa, uma sandália e começou a brincar com algumas bonecas, depois disso a situação se repetiu por várias vezes. A mãe achou estranho o comportamento do filho, chegou a pensar que ele teria alguma tendência homossexual, mas, após procurar um psicólogo, a razão era clara: a reação dele era para chamar atenção e conseguir o carinho do pai.
          Diante desse fato ou outros semelhantes, a dúvida dos pais ocorre em relação à orientação sexual das crianças no futuro. Muitas mães acreditam que seus filhos podem ter características femininas caso coloquem uma fantasia de branca de neve. Também têm receio que as meninas desenvolvam uma tendência mais abrutalhada se praticarem lutas marciais.
          Em princípio, a questão da divisão entre brincadeiras é cultural. Está relacionada a normas sociais que têm origem na desigualdade entre os sexos. A psicóloga Regina Elia dá outra uma explicação. “Na verdade se trata de uma questão hormonal. Os hormônios da testosterona nos meninos os fazem desejar espaços mais amplos para a prática de brincadeiras e esportes competitivos, tudo aquilo que envolve mais força e energia. Em contrapartida, o hormônio estrógeno, presente nas meninas em maior intensidade, nos meninos em menor intensidade, as torna mais centradas em busca de atividades e brincadeiras que envolvam mais afetividade e passividade”.
          Mas deve se ressaltar que ambos os sexos possuem os dois hormônios, sendo assim, é comum meninas freqüentarem aulas de futebol ou ver meninos com bonecas. Conforme a psicóloga, alguns países de primeiro mundo valorizam a brincadeira para ambos os sexos, e não separam brinquedos masculinos e femininos.
          “Logo aos dois anos de idade já começa a querer separar os brinquedos como, ‘esse é de menina e esse é de menino’. Mas isso varia muito do que os mais colocam na criança. Lembrando sempre que ela aprende por imitação e vai se espelhar nos pais. O ideal é ter brinquedos variados, que independem do sexo, para que os filhos tenham mais liberdade e vejam o que gostam”.
          A escolha por brincadeiras femininas não representa que os meninos serão homossexuais no futuro. “Porque eles também têm hormônios femininos, em menor proporção, que fazem deles um ser mais compreensivo. Brincar de boneca para um menino é diferente de brincar de boneca para uma menina”, explica.
          Na opinião da psicóloga, todas as brincadeiras até os seis anos de idade, aproximadamente, são para ambos os sexos. É nessa fase que elas estão descobrindo o mundo através da brincadeira e como funciona o comportamento dos adultos. “É natural que eles queiram se sentir no papel do sexo oposto algumas vezes”. Em alguns casos, a troca é até indicada. Regina diz que as brincadeiras ditas "femininas" para os meninos auxiliam em alguns conflitos, como rivalidde entre irmãos ou discussões entre os pais.
          “Tudo isso pode ser resolvido nas brincadeiras de casinhas e bonecas. Isso não tem a ver com homossexualidade, mas sim com resolução de desavenças. O inverso serve para as meninas, que precisam algumas vezes de armas e lutas para descarregar sua raiva e agressividade”.
          Os pais também devem levar em consideração que os papéis sociais se modificaram e a igualdade dos sexos está cada vez mais presente. Mulheres trabalham fora e os homens participam da casa. E as crianças são reflexo dessa mudança de comportamento.

Por Juliana Lopes


As consequências da agressão infantil
Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra: http://vilamulher.terra.com.br/as-consequencias-da-agressao-infantil-8-1-55-413.html



          Casos de maus-tratos como o praticado pela procuradora aposentada Vera Lúcia Sant´Anna Gomes, 57, que está sendo investigada por agredir uma menina de dois anos, estão cada vez mais presentes nos noticiários, o que nos deixa muito assustados sobre a questão da violência doméstica no país.
          A criança estava sob a guarda da procuradora e adotada em 14 de março. 
          Pouco tempo depois, isso no dia 15 de abril, uma equipe da Vara da Infância, acompanhada de uma juíza, uma promotora e oficial de Justiça, foi à casa da procuradora e encontrou a menina machucada e com os olhos inchados.
          Para os pais e pessoas que assistem as notícias sobre o caso, o sentimento é de que se faça justiça, que a mãe adotiva seja punida. Entretanto, a preocupação maior deve ser com o futuro dessa criança, afinal, segundo a psicóloga Regina Elia, a mãe adotiva é que projetou os seus problemas na pequena, agindo com a violência física e psicológica, ao invés de educá-la.
          "Alguns traumas da violência doméstica podem fazer com que a criança se culpe por estar sofrendo desse jeito, às vezes, ela pode até se agredir por achar que é a causa destes problemas. Outra conseqüência é a
agressão como uma forma de defesa, pois como ela não consegue se defender dos maus-tratos e acaba descontado em outras pessoas, principalmente nos coleguinhas", aponta.
          A melhor forma dela se recuperar é recebendo muito carinho e atenção, pois ainda há o fato da pequena ser rejeitada pela mãe biológica. "Ela precisa reinterpretar esse mundo e saber a diferença de fato do bem e do mal, isso é possível através dos contos de fada, por exemplo, que delimitam o que é cada um, afinal, não há herói que é meio bonzinho, não é?".
          Regina explica que 50% da formação da personalidade depende do meio em que a criança vive. "Se mesmo as características ruins não fizerem parte da genética dela, um ambiente agressivo é algo determinante para que ela se torne um adulto mais violento", diz. Para que ela não viva também isolada e cresça de forma saudável, o próximo passo é resgate a sua autoestima.
          Segundo o Disque Denúncia, que tem ligação direta ao Conselho Tutelar, a violência dentro de casa é o segundo tipo de crime mais denunciado. Os maus tratos físicos podem ser detectados facilmente, principalmente quando há presença de marcas no corpo da criança e dores intensas causadas por alguma lesão.
          O contrário acontece em casos de violência emocional, geralmente mudanças de comportamento são indícios de que algo estranho está acontecendo, entretanto, muitas vezes é difícil confirmar a agressão moral porque a criança tem vergonha de comentar o fato. Quando ocorrer algo semelhante com familiares ou pessoas próximas busque ajuda de um especialista e denuncie. O número nacional do Disque Denúncia é 181.
           Por ordem da Justiça, a procuradora perdeu a guarda provisória da menina e foi suspenso o pedido de adoção definitiva. A criança foi transferida para um abrigo, que não teve o nome divulgado, onde recebe assistência psicológica.
Por Juliana Lopes










Trabalhar com crianças - sempre um aprendizado
Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra: http://vilamulher.terra.com.br/trabalhar-com-criancas-sempre-um-aprendizado-8-1-55-447.html




          Elas são mães e escolheram seguir uma carreira que envolve ajudar no desenvolvimento de bebês, crianças e adolescentes que não sejam os seus filhos. Professoras, babás e psicólogas se desdobram para que a criançada tenha um crescimento físico e psicológico saudável.
          Em tempo se férias os professores tiram uma folguinha. Entram em ação, recreadores e monitores em parques temáticos ou
acampamentos. Quem conhece bem essa realidade é Marília Rabello, 44 anos, mãe de três filhos - com idades de 9,13 e 15 anos - e diretora do Acampamento Peraltas, infantil e juvenil, localizado em Brotas, no interior de São Paulo.
          Marília começou logo cedo a trabalhar com os pequenos. O perfil de empreendedora a fez abrir uma empresa de animação de festas infantis logo aos 17 anos. Mais tarde passou para o trabalho de monitora no grupo Peraltas. Bastaram três anos para ela passar de estagiária e monitora, para a coordenação dos eventos, e por fim, se tornar diretora. "Sempre gostei muito de crianças, pela ingenuidade, necessidade de atenção e espaço. Acredito que o principal segredo para trabalhar com elas é propor atividades interessantes, que agucem sua criatividade e imaginação. Dando atenção, carinho, respeito e, principalmente, sabendo ouvi-las.", diz.
        Marília observa que muitas crianças estão carentes de autonomia, de conviver com os colegas e aprender através da vivência. "Elas também precisam ter noções de cidadania, aprenderem a respeitar e serem respeitadas", acrescenta. Na sua opinião,
atividades dentro de um acampamento são ótimas para isso. "Lá todos são iguais, com as mesmas obrigações e deveres. As crianças também ficam mais abertas a aprender nesses momentos, pois não têm que se preocupar com a família, apenas com elas mesmas. De fato é um momento só delas", ressalta. Para qualquer função que envolva crianças, ela acredita que é necessário ser muito responsável, dar bons exemplos, ter paciência e, claro, ser sempre um profissional muito animado e divertido. A diretora se sente realizada profissionalmente quando alguns ex-acampantes dizem que as atividades durante as férias nos acampamentos ajudaram a torná-los pessoas mais decididas e ativas, adultos mais humanos e conscientes.
        Depois de mais de 25 anos ao lado da criançada, Marília observou de perto as mudanças das gerações, seus pontos positivos e negativos. "Hoje elas são tratadas como jovens adultos, com muitas atribuições, atividades, roupas e diversão. E perdem a fase mais bela e descompromissada da vida. Estão sem espaço para conviver com outras crianças, sem momentos para brincar, se divertir, se conhecer", opina.
        A psicóloga Regina Elia acrescenta que muitos profissionais, incluindo os pais, não conhecem a fundo a vida emocional da criança, do mundinho infantil, da importância dos contos de fadas, desenhos e de se criar novas brincadeiras. "É através disso que os pequenos se expressam, aliviam o seu inconsciente, e conseguem resolver os seus próprios conflitos", explica a diretora da Escola Psicológica Regina Elia (São Paulo), que ministrou cursos para 8000 alunos, entre babás, pais e professores de educação infantil, com o aval do Sindicato das Escolas Particulares de São Paulo.
Depois de não concordar com a didática do próprio pai e observar durante a formação que muitos profissionais não têm conhecimento da vida emocional da criança, ela começou a se interessar pelo assunto. Mas foi quando cuidou da própria filha, hoje com 16 anos, e não encontrou uma boa babá, que surgiu a ideia de montar uma escola. "Muitas chegam para mim e dizem que tem anos de experiência e não precisam aprender mais nada, mas muita coisa mudou, principalmente com as novas tecnologias", acrescenta.
        Para Marília, o grande desafio de lidar na questão das brincadeiras é buscar algo novo diante do excesso de possibilidades que a internet e
videogames oferecem. "Elas conhecem tudo muito cedo, pedem o interesse com facilidade, ou acham que compreendem tudo. Por isso, acredito que o acampamento, por exemplo, é um local para elas se desligarem um pouco e aproveitar o que a natureza tem de bom para oferecer", diz.
        Com tanta oferta de informações e possibilidades, e pouca brincadeira de fato, as crianças se tornam adultas antes do tempo e se acham no direito de serem donas do próprio nariz. A conseqüência disso, conforme a psicóloga, é a dificuldade de pais e professores
impor limites. "Sobre isso existem dois pontos. Um deles é que muitos pais projetam o que querem para seus filhos, acham que eles devem ser o que não foram. Ou então, quando não conseguem educá-los acabam deixando os filhos no computador ou em frente à televisão como uma fuga, pois já perderam o controle da situação", aponta a consultora psicológica.
        A questão da autoestima também é bastante discutida durante os cursos. Com a falta de segurança, a criança se sente perdedora e transfere isso durante a convivência com os colegas. "Muitas acabam os agredindo do jeito delas, algo bastante comum nas escolas", diz Regina. A timidez também é outro fator importante que deve ser trabalhando, conforme a psicóloga. "Muitas vezes, as crianças não sabem se defender e tem medo de se expor, assim se prejudicam e acabam não colocando para fora o que realmente sentem", diz. 
        Mesmo com tantos desafios e responsabilidades, pois o que está em jogo é o futuro de um cidadão, elas confessam que não se arrependeram da escolha. "Me sinto realizada e não sei o que faria se não trabalhasse com elas", finaliza Regina.


Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra sobre Tweens: http://vilamulher.terra.com.br/tweens-como-agir-nessa-nova-fase-8-1-56-43.html
Tweens - como agir nessa nova fase




          De uma hora para a outra sua filha começa a trocar bonecas e ursinho de pelúcia por passeios no shopping com as amigas. Se antes ela mal conseguia andar sozinha, agora quer o salto alto emprestado
          Será que ela mostra sinais de ser uma "
tween" (pré-adolescente)?
          Geralmente quando meninos e meninas têm entre sete ou oito anos começam a receber estímulos dos adultos. São bombardeados pela tecnologia - não só celulares, mas também descobrem um novo universo ao navegar na rede. 
          Segundo Agatha Hencsey, psicoterapeuta cognitiva comportamental, não existe uma idade exata que determina quando a criança entra na
fase da pré-adolescência, principalmente nos tempos de hoje, em que a tecnologia e o acesso às informações influência o comportamento dos jovens. "Mesmo irmãos gêmeos podem sofrer essa adaptação de fases em períodos diferentes. Cabe aos pais estarem atentos para saber o que e o quanto podem exigir dos seus filhos", diz.
           Com uma oferta maior de interações e mesmo o acesso a vários meios de comunicação, seja através de celulares,
redes sociais ou da própria televisão, é comum que essas crianças tenham um comportamento precoce, o que nem sempre significa que tenham amadurecido. "Os jovens de hoje pulam certas etapas do seu crescimento e acabam se tornando ‘adultos’ mais rápido. No entanto, esse crescimento é superficial, no momento em que suas atitudes e seus pensamentos ainda refletem uma infantilidade", comenta a psicóloga. 
          Na opinião da psicóloga Regina Elia, outra desvantagem do livre acesso às novas tecnologias e a entrada dessas
crianças ou pré-adolescentes ao mundo adulto é a banalização dos valores, em um momento que eles ainda não tem a personalidade formada. E em grande parte das vezes, segundo Hencsey, programas de televisão, por exemplo, abordam temas como sexualidade, droga e violência, muito aquém do ideal para os jovens no período da pré-adolescência. 
          "Assim eles são instigados a procurar mais sobre os temas, seja com amigos, ou em diferentes meios de comunicação, e nem sempre são respondidos corretamente", destaca a psicoterapeuta. Criam uma sensação de intimidade com o mundo virtual, se esquecendo da família e do vínculo afetivo com pais e mães, ou até professores.
           Ainda sobre essa questão, Regina destaca algo importante para muitos pais. Logo cedo, antes de se tornarem adolescentes, filhos estão aprendendo sobre sexualidade na internet, e não dentro de casa, através de uma conversa aberta com os pais. "O primeiro beijo, as mudanças do corpo e a
descoberta da sexualidade devem vir acompanhados de valores de amor e respeito com o próprio corpo, vemos hoje a primeira relação sexual banalizada tal como o beijo". E nesse momento é que fica a dúvida de como tratar do assunto em casa, principalmente, qual postura assumir: mãe ou amiga?
          "Os pais devem aproveitar cenas da TV, do cotidiano, das experiências negativas e colocar seus valores sobre o assunto. Mas para isso é preciso ser parceiro do filho e conseguir estabelecer uma intimidade", aponta a psicóloga. E não tomar atitudes radicais. No caso da internet permitir sim para acesso ao mundinho virtual, pois é através dele que os jovens conseguem firmar laços de amizade, mais ainda, buscam um grupo que mais combine com seus padrões de comportamento.
           A diferença na hora de impor limites é que agora, como pré-adolescente, ele começará a questionar as ordens que serão dadas. Para os pais que convivem com esse conflito, Hencsey acrescenta que agora, com a chegada da pré-adolescência, é um bom momento para firmar ‘acordos’. "Através da conversa, pais e filhos devem chegar a um determinado ponto em comum, onde o jovem deverá entender e aceitar as conseqüências de suas atitudes. E quando não há o cumprimento das regras é necessário não apenas a punição, mas principalmente uma conversa". Desse jeito, conforme a psicoterapeuta, o jovem saberá compreender melhor o porquê do erro e encontrará um caminho para que ele não ocorra novamente.
          "Uma dica importante é fazer o seu filho reproduzir o que entendeu, assim você terá certeza de que ele compreendeu, impossibilitando depois a famosa frase: ‘eu não entendi que era isso o que eu tinha que fazer’", finaliza a psicoterapeuta.

Por Juliana Lopes



Tiroteio em Realengo - como conversar com os filhos?
Psicóloga Regina Elia escreve para o provedor Terra sobre tiroteio em Realengo: http://vilamulher.terra.com.br/tiroteio-em-realengo-como-conversar-com-os-filhos-8-1-55-596.html


          Depois da tragédia que aconteceu na última quinta-feira, quando Wellington Menezes de Oliveira invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, e matou 12 crianças, deixando muitos outras feridas, o assunto é destaque em todo país. Mas como conversar com as crianças sobre o tema que invadiu a programação da televisão?
          A psicóloga Regina Elia explica que realmente não é uma tarefa fácil, mas que os pais precisam falar sobre o assunto de forma franca.
          Reações de medo e um período de insegurança são normais. "É comum que as
crianças tenham medo de ir para a escola em um primeiro momento, já que o massacre ocorreu em uma unidade de educação. Mas os pais têm que passar segurança para eles, explicando que isso não irá ocorrer, seguir com eles até a escola e mostrar que está tudo bem. É importante também se posicionar em relação a escola, ir até lá, conversar sobre a segurança e os cuidados para evitar tragédias."
          Regina explica que os pais devem ficar atentos ao comportamento das crianças. Se elas demonstrarem medo ou reações diferentes em um período máximo de até 15 dias é normal, depois disso já se torna algo preocupante. Outra coisa que pede muita atenção é se a criança tem
reações muito agressivas. "A agressividade só aparece em quem já tem tendência e isso pode ser preocupante. O normal é aparecer o medo e até uma certa revolta em alguns casos".
          Uma maneira de perceber se a criança está ou não muito impressionada é deixá-la brincar e desenhar de forma livre. A psicóloga explica que neste tipo de atividade os pequenos demonstram o que estão sentindo e se os pais ficarem atentos podem evitar problemas maiores. "Na primeira semana é até normal aparecer nos desenhos pessoas mortas, tiros e outras referências à tragédia. Se persistir e daqui a um mês a criança ainda seguir pensando muito nisso começa a ser preocupante".
          Regina finaliza lembrando que é muito importante dizer sempre a verdade. Trabalhar com a mentira ou então exagerar nunca são boas opções. "Os pais são o referencial dos filhos, é necessário que eles estejam equilibrados para transmitir equilíbrio aos filhos e não só no discurso, também no comportamento".


 Por Larissa Alvarez

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